15 dezembro, 2006

Sonrisais através da história III



Elliott Erwitt



"Graças à Mussolini, sou americano!"

"A cor é um domínio dos profissionais. Minha vida é muito complicada. Eu prefiro o P e B."

"A fotografia é uma profissão de preguiçoso, não se precisa de treinos, como músico, dançarino ou escritor. Precisamos somente ter um pequeno senso de composição e uma certa 'finesse'."

"Quando uma foto é boa sou de acordo mas quando ela muito boa, ela escapa à razão, é quase uma magia, nada com o que o fotógrafo vê ou deseja conscientemente. Quando a foto chega, ela vem facilmente como um presente, sem que se precise de análise. Como Napoleão dizia: 'IREMOS, DEPOIS VEREMOS...'."

"Uma das primeiras séries sobre esse tema (cachorros) foi uma encomenda para o suplemento do domingo no New York Times. Era uma foto de moda para calçados de mulher, decidi fotografar do ponto de vista do cachorro - eles não são os que mais gostam de sapatos?"

Artigo na íntegra.


Fonte: photosynthesis


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© Danilo Almeida @ sombra e luz

05 dezembro, 2006

Kiarostami, um artista despojado.


D
e Turim a Tóquio, de Beirute a Cannes ou agora São Paulo, Abbas Kiarostami ministra lições de cinema com uma dedicação vocacional pelo
despojamento franciscano do cinema ou da comunicação. Do registro do tempo. A arte de Kiarostami está em permanente processo de transformação, em busca deste despojamento radical, uma nova inquietude em sobreposição. E Kiarostami imagina que uma fotografia, por não contar uma história, está em perene transformação, e pensa que se sente hoje mais fotógrafo que cineasta e que às vezes gostaria de fazer um filme em que não se diz nada.

Esta busca pelo despojamento leva Kiarostami aos novos recursos digitais e faz o seu cinema visitar ainda mais facilmente a sincera intimidade de seus personagens. “Para mim, a utilização do digital liga-se intimamente a este processo de revalorização das imagens, a uma espécie de retorno à inocência perdida”, ele percebe. “E Deus criou o digital”, comemora.

(...)

em seu encontro em Beirute em um seminário com estudantes de cinema, quando um deles lhe diz: “só mesmo o senhor poderia ter realizado um filme como Dez, por causa da fama que conseguiu. Se nós o tivéssemos feito, ninguém o aceitaria”, ele responde: “Já que eu era o professor ali, tive de contar-lhes a verdade”, revela o mestre Kiarostami: “Fazer coisas simples exige uma boa dose de experiência”.

A medida de todo este despojamento, a arte de contar e registrar a vida com simplicidade teve no Festival de Cannes de 2002 um curioso confronto quando Dez estava programado no mesmo dia em que seria projetado Star Wars. Abbas Kiarostami fez um cálculo: o seu filme havia custado o mesmo que dez fotogramas do de George Lucas.

Celebrar a arte de Kiarostami exige fundamentalmente despojamento. Senão, contar até dez continuará parecendo muito fácil.


...


Cineasta, fotógrafo e poeta iraniano, Kiarostami nasceu em Teerã em 1940. O trecho foi transcrito do livro "Abbas Kiarostami", editora Cosac Naify.




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© Danilo Almeida @ sombra e luz

03 dezembro, 2006

"Vem, vem, vem pra rua vem, contra o aumento!"

Era esse um dos gritos que ressoaram pelas ruas do centro de São Paulo nos últimos dias 30/11 e 01/12. Um grito justo contra o abusivo aumento da tarifa do transporte urbano.
Em ambos os dias, a concentração de manifestantes ocorreu na frente do teatro Municipal, centro de São Paulo. Foto: Nil França / 30.11

30 centavos a mais por passagem, 15 reais em média gastos a mais por mês com o transporte, que é público, mas favorece empresas privadas. Ao ano, o usuário desembolsará 180 reais a mais para pôr em prática seu direito de ir e vir. São 6 milhões de usuários, gerando uma arrecadação de 1,080 bilhão de reais a mais até 30 de novembro de 2007, quando a nova tarifa fizer aniversário.

Fotos: Ênio Cesar / 30.11

A manifestação era pacífica e ao lado de gritos de protesto conviviam jogos de capoeira e circo.
Foto: Nil França / 30.11
Não há previsão significativa de melhoria nos transportes e mesmo pagando caro, o paulistano ainda enfrenta demora de em média 20 minutos para conseguir embarcar em um ônibus, gastando cerca de uma hora por trajeto. Isso em valores médios, quem vive nas periferias demora muito mais tempo, em ônibus superlotados e freqüentemente em péssimas condições.
Foto: Nil França / 01.12
Mas o que isso importa ao Sr. Gilberto Kassab (PFL), que assumiu a prefeitura assim que o PSDBista José Serra deixou o cargo para se canditar ao governo do estado? Afinal, quem estudou em sua juventude em um dos colégios mais tradicionais de São Paulo, o Liceu Pasteur e conseguiu formar-se em Engenharia Civil e Economia pela maior universidade do país nunca deve ter se dado ao trabalho de utilizar um transporte público. Mas pra que ir tão longe para tentar avaliar o quanto o sr. prefeito está pouco se lixando para a população? Basta lembrarmos do cargo que ocupou entre 1997 e 1998: Kassab foi secretário de planejamento durante a gestão Celso Pitta, e olhem só: governo este que responde por desvio de dinheiro público, superfaturamento em obras e improbidade administrativa.
Foto: Ênio Cesar/ 30.11

Os protestos contra o aumento foram justos. Sim, isso é indiscutível. Discutível é a postura da grande mídia em ridicularizar uma reivindicação legítima.

Para servir, proteger e reprimir

Foto: Nil França / 30.11

Se não bastasse o ridículo, havia ainda a truculência habitual da polícia, que contra faixas, bandeiras e narizes de palhaço usa cassetetes, sprays de pimenta e bombas de efeito moral. O resultado não poderia ser outro: 4 estudantes feridos, sendo um deles uma estudante de 17 anos com fratura exposta, vítima de uma bomba de efeito "moral". Piada de humor negro, só pode. Resultado bem mais triste que no dia anterior, quando a passeata terminou sem confrontos ou maiores problemas.

Foto: Ênio Cesar / 01.12

Segundo a PM quem começou a confusão foram os manifestantes, que começaram a lançar lixo e cascas de laranja. Mentira. Desde o teatro municipal, a policia acompanhava a manifestação com poucos homens, na chegada da avenida Rio Branco, tentaram espremer os estudantes para uma única faixa de ônibus, percebendo a truculência exagerada, um manifestante questionou o fato dos policiais não estarem identificados. Prática comum utilizada pelos PMs menos civilizados, a não identificação foi notada também no dia anterior, quando a passeata atravessava a Maria Paula.


Fotos: Ênio Cesar

Foto: Nil França

Explode então a confusão e as primeiras bombas.

Em poucos minutos chegaram os reforços e já havia notícias da tropa de choque se organizando. Atravessada a fumaça, os olhos ardiam e lacrimejavam absurdamente, já clicava com a visão embaçada.


Fotos: Nil França / Ênio Cesar

Reagrupados e sem policiais à vista, mas recebendo constantes informações de que a PM e a tropa de choque estavam se organizando, os manifestantes prosseguiram pelas ruas do centro, chegando à Consolação, onde surgiu um impasse entre subir até a Paulista ou descer pela Maria Antônia. Por fim, para evitar maiores feridos e confrontos com a polícia, a manifestação optou pelo segundo caminho, finalizando a passeata no Largo da Santa Cecília.

Foto: Nil França

Era a hora de descarregar as fotos e contatar jornais.