Sonrisais através da história III
Elliott Erwitt
"Graças à Mussolini, sou americano!"
05 dezembro, 2006
Kiarostami, um artista despojado.
De Turim a Tóquio, de Beirute a Cannes ou agora São Paulo, Abbas Kiarostami ministra lições de cinema com uma dedicação vocacional pelo despojamento franciscano do cinema ou da comunicação. Do registro do tempo. A arte de Kiarostami está em permanente processo de transformação, em busca deste despojamento radical, uma nova inquietude em sobreposição. E Kiarostami imagina que uma fotografia, por não contar uma história, está em perene transformação, e pensa que se sente hoje mais fotógrafo que cineasta e que às vezes gostaria de fazer um filme em que não se diz nada.
Esta busca pelo despojamento leva Kiarostami aos novos recursos digitais e faz o seu cinema visitar ainda mais facilmente a sincera intimidade de seus personagens. “Para mim, a utilização do digital liga-se intimamente a este processo de revalorização das imagens, a uma espécie de retorno à inocência perdida”, ele percebe. “E Deus criou o digital”, comemora.
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em seu encontro em Beirute em um seminário com estudantes de cinema, quando um deles lhe diz: “só mesmo o senhor poderia ter realizado um filme como Dez, por causa da fama que conseguiu. Se nós o tivéssemos feito, ninguém o aceitaria”, ele responde: “Já que eu era o professor ali, tive de contar-lhes a verdade”, revela o mestre Kiarostami: “Fazer coisas simples exige uma boa dose de experiência”.
A medida de todo este despojamento, a arte de contar e registrar a vida com simplicidade teve no Festival de Cannes de 2002 um curioso confronto quando Dez estava programado no mesmo dia em que seria projetado Star Wars. Abbas Kiarostami fez um cálculo: o seu filme havia custado o mesmo que dez fotogramas do de George Lucas.
Celebrar a arte de Kiarostami exige fundamentalmente despojamento. Senão, contar até dez continuará parecendo muito fácil.
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Cineasta, fotógrafo e poeta iraniano, Kiarostami nasceu em Teerã em 1940. O trecho foi transcrito do livro "Abbas Kiarostami", editora Cosac Naify.
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© Danilo Almeida @ sombra e luz
03 dezembro, 2006
"Vem, vem, vem pra rua vem, contra o aumento!"
Fotos: Ênio Cesar / 30.11
Os protestos contra o aumento foram justos. Sim, isso é indiscutível. Discutível é a postura da grande mídia em ridicularizar uma reivindicação legítima.
Para servir, proteger e reprimir
Foto: Nil França / 30.11
Se não bastasse o ridículo, havia ainda a truculência habitual da polícia, que contra faixas, bandeiras e narizes de palhaço usa cassetetes, sprays de pimenta e bombas de efeito moral. O resultado não poderia ser outro: 4 estudantes feridos, sendo um deles uma estudante de 17 anos com fratura exposta, vítima de uma bomba de efeito "moral". Piada de humor negro, só pode. Resultado bem mais triste que no dia anterior, quando a passeata terminou sem confrontos ou maiores problemas.
Foto: Ênio Cesar / 01.12
Segundo a PM quem começou a confusão foram os manifestantes, que começaram a lançar lixo e cascas de laranja. Mentira. Desde o teatro municipal, a policia acompanhava a manifestação com poucos homens, na chegada da avenida Rio Branco, tentaram espremer os estudantes para uma única faixa de ônibus, percebendo a truculência exagerada, um manifestante questionou o fato dos policiais não estarem identificados. Prática comum utilizada pelos PMs menos civilizados, a não identificação foi notada também no dia anterior, quando a passeata atravessava a Maria Paula.
Fotos: Ênio Cesar
Foto: Nil França
Explode então a confusão e as primeiras bombas.
Em poucos minutos chegaram os reforços e já havia notícias da tropa de choque se organizando. Atravessada a fumaça, os olhos ardiam e lacrimejavam absurdamente, já clicava com a visão embaçada.
Fotos: Nil França / Ênio Cesar
Reagrupados e sem policiais à vista, mas recebendo constantes informações de que a PM e a tropa de choque estavam se organizando, os manifestantes prosseguiram pelas ruas do centro, chegando à Consolação, onde surgiu um impasse entre subir até a Paulista ou descer pela Maria Antônia. Por fim, para evitar maiores feridos e confrontos com a polícia, a manifestação optou pelo segundo caminho, finalizando a passeata no Largo da Santa Cecília.
Foto: Nil França
Era a hora de descarregar as fotos e contatar jornais.