impressões tardias
e não, eu não sou emo. hahaha
04 janeiro, 2007
Sonrisais através da história IV
Mas dos falecidos nenhum foi tão sonrisal quanto o soul man James Brown.
I Feel GOD!
"É Deus quem me guia. Deus está em todas as partes. E, logo abaixo, está James Brown"
Ilustração de Marcus Ravelli (Quinho)
http://fotolog.terra.com.br/quinhoravelli
Ao lado de "Tomorrow Never Knows" (1966), dos Beatles, "Funky Drummer", gravada por Brown em 1969 é uma das músicas mais sampleadas de todos os tempos e Brown, assim como os rapazes de Liverpool, uma das maiores influências na música do século XX.
Parafraseando o DJ Hum, James Brown "está no subconsciente do pop", e sua influência na música do século passado atinge níveis só alcançados por Beatles, Ramones, Armstrong... e olhe lá!
Muitos músicos têm talento, poucos criam um estilo, um legado e criam parâmetros para toda uma cultura. Mr. Dinamite não é só soul, é funk, hip hop, r&b, drum'n'bass, e sei lá eu quantos estilos mais. Tudo veio pós e a partir de James Brown.
Brown sempre foi um marginal e teve vários problemas com a polícia por causa de drogas, bebidas e mulheres.
Foi um ator que mais interpretava, no sentido cênico do termo, do que cantava suas canções e como ator, Brown tinha alma no palco. Só ele aos 70 anos poderia cantar e dançar algo com o título de "Sex Machine" mandar todo mundo "get uppa" e vejam só, ser atendido.
Algumas de suas declarações, que o colocam, sem dúvida, no hall de sonrisais através da história:
"Nós nos chamávamos de pessoas de cor e, depois da canção ["Say It Loud (I'm Black and Proud)/ diga alto: sou negro e tenho orgulho], passamos a nos chamar de negros. A canção mostrou que música e letra podem mudar a sociedade"
"Michael Jackson costumava ver meus shows do backstage e criou o seu Moonwalk a partir do meu Camel Walk. Eu não tenho ciúmes, tenho orgulho. Eu não me sinto ofendido, eu me sinto homenageado."
"Eu nunca vou esquecer o que eu sou, de onde eu vim, o que eu sou hoje e quem me colocou aqui: vocês."
"Eu gostaria de passar do querer para o fazer algo. A necessidade está ali. Letras boas são coisas legais, mas eu gostaria de ser movido por uma determinação até a morte."
"Nós precisamos proteger as crianças e dar algo para elas fazerem. Fazê-las interessadas, fazê-las amar mais o pai e a mãe, amar mais a família, amar mais elas mesmo. Então não terão que matar na escola."
Não resta muito mais a dizer, além de "Get uppa" e salve James Brown!
15 dezembro, 2006
Sonrisais através da história III
Elliott Erwitt
"Graças à Mussolini, sou americano!"
05 dezembro, 2006
Kiarostami, um artista despojado.
De Turim a Tóquio, de Beirute a Cannes ou agora São Paulo, Abbas Kiarostami ministra lições de cinema com uma dedicação vocacional pelo despojamento franciscano do cinema ou da comunicação. Do registro do tempo. A arte de Kiarostami está em permanente processo de transformação, em busca deste despojamento radical, uma nova inquietude em sobreposição. E Kiarostami imagina que uma fotografia, por não contar uma história, está em perene transformação, e pensa que se sente hoje mais fotógrafo que cineasta e que às vezes gostaria de fazer um filme em que não se diz nada.
Esta busca pelo despojamento leva Kiarostami aos novos recursos digitais e faz o seu cinema visitar ainda mais facilmente a sincera intimidade de seus personagens. “Para mim, a utilização do digital liga-se intimamente a este processo de revalorização das imagens, a uma espécie de retorno à inocência perdida”, ele percebe. “E Deus criou o digital”, comemora.
(...)
em seu encontro em Beirute em um seminário com estudantes de cinema, quando um deles lhe diz: “só mesmo o senhor poderia ter realizado um filme como Dez, por causa da fama que conseguiu. Se nós o tivéssemos feito, ninguém o aceitaria”, ele responde: “Já que eu era o professor ali, tive de contar-lhes a verdade”, revela o mestre Kiarostami: “Fazer coisas simples exige uma boa dose de experiência”.
A medida de todo este despojamento, a arte de contar e registrar a vida com simplicidade teve no Festival de Cannes de 2002 um curioso confronto quando Dez estava programado no mesmo dia em que seria projetado Star Wars. Abbas Kiarostami fez um cálculo: o seu filme havia custado o mesmo que dez fotogramas do de George Lucas.
Celebrar a arte de Kiarostami exige fundamentalmente despojamento. Senão, contar até dez continuará parecendo muito fácil.
...
Cineasta, fotógrafo e poeta iraniano, Kiarostami nasceu em Teerã em 1940. O trecho foi transcrito do livro "Abbas Kiarostami", editora Cosac Naify.
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© Danilo Almeida @ sombra e luz
03 dezembro, 2006
"Vem, vem, vem pra rua vem, contra o aumento!"
Fotos: Ênio Cesar / 30.11
Os protestos contra o aumento foram justos. Sim, isso é indiscutível. Discutível é a postura da grande mídia em ridicularizar uma reivindicação legítima.
Para servir, proteger e reprimir
Foto: Nil França / 30.11
Se não bastasse o ridículo, havia ainda a truculência habitual da polícia, que contra faixas, bandeiras e narizes de palhaço usa cassetetes, sprays de pimenta e bombas de efeito moral. O resultado não poderia ser outro: 4 estudantes feridos, sendo um deles uma estudante de 17 anos com fratura exposta, vítima de uma bomba de efeito "moral". Piada de humor negro, só pode. Resultado bem mais triste que no dia anterior, quando a passeata terminou sem confrontos ou maiores problemas.
Foto: Ênio Cesar / 01.12
Segundo a PM quem começou a confusão foram os manifestantes, que começaram a lançar lixo e cascas de laranja. Mentira. Desde o teatro municipal, a policia acompanhava a manifestação com poucos homens, na chegada da avenida Rio Branco, tentaram espremer os estudantes para uma única faixa de ônibus, percebendo a truculência exagerada, um manifestante questionou o fato dos policiais não estarem identificados. Prática comum utilizada pelos PMs menos civilizados, a não identificação foi notada também no dia anterior, quando a passeata atravessava a Maria Paula.
Fotos: Ênio Cesar
Foto: Nil França
Explode então a confusão e as primeiras bombas.
Em poucos minutos chegaram os reforços e já havia notícias da tropa de choque se organizando. Atravessada a fumaça, os olhos ardiam e lacrimejavam absurdamente, já clicava com a visão embaçada.
Fotos: Nil França / Ênio Cesar
Reagrupados e sem policiais à vista, mas recebendo constantes informações de que a PM e a tropa de choque estavam se organizando, os manifestantes prosseguiram pelas ruas do centro, chegando à Consolação, onde surgiu um impasse entre subir até a Paulista ou descer pela Maria Antônia. Por fim, para evitar maiores feridos e confrontos com a polícia, a manifestação optou pelo segundo caminho, finalizando a passeata no Largo da Santa Cecília.
Foto: Nil França
Era a hora de descarregar as fotos e contatar jornais.
12 novembro, 2006
A imortalidade
Milan Kundera é um daqueles escritores do qual de tempos em tempos procuro ler alguma coisa. Devo ler um livro dele a cada dois anos e algumas releituras em intervalos semelhantes. Mesclando literatura, filosofia e investigações acerca do espírito humano, ler Kundera é sempre um prazer. Retiro as reflexões seguinte do livro A imortalidade, minha última incursão na obra do autor.
Kundera, e antes dele Goethe, fala não sobre a imortalidade da alma, mas de uma imortalidade profana, daqueles que permanecem na memória coletiva, na história, depois de mortos.
Porém, além da opção de alcançar ou não a imortalidade, há, nesta, a nítida distinção entre pequena imortalidade e grande imortalidade. A pequena é a recordação de um homem no espírito daqueles que o conheceram, e a grande, a recordação de um homem no espírito daqueles que não o conheceram. Muitos ao tentar adentrar na grande imortalidade, mal alcançam a pequena e acabam por perder ao menos uma imortalidade digna, quando não uma mortalidade ao menos respeitável.
Mas continuemos a exposição, auxiliado por Milan Kundera e Goethe.
Existem carreiras e posições que, por princípio, confrontam um homem com a grande imortalidade, incerta, mas possível: as carreiras de artista e de homem de Estado.
E estes são os mais afetados por alcançar a imortalidade. O homem deseja a imortalidade, muitos desses a querem a qualquer custo. Porém a imortalidade deve ser um processo e um dia um desses pretensos imortais se deixa enganar pelo ego e busca elevar, por exemplo, versos vazios ou fotos de vitrines ao estatuto de arte, sem, obviamente, critérios e qualidades válidos para tal. Não que isso seja determinante absoluto na retirada do nome de alguém do hall da imortalidade ou da mortalidade digna, mas é um sinal desesperado de querer se manter na lembrança.
Pertinente, vale citar o clássico caso de se sair de uma atividade ainda no auge, a grande imortalidade aí está quase garantida enquanto que atividades levadas à exaustão, aquém da qualidade conquistada no passado, geralmente levam a conquista de pena ou nem isso.
Prosseguindo: em uma trajetória de razoável busca e aquisição de elementos para o alcance da imortalidade, o ego pode pôr tudo a perder e em um reverso maligno, uma trajetória com alguma glória vê-se ofuscada por um patetismo (às vezes um acúmulo deles) que se transformará na parábola de toda sua vida. Nesse caso pode não se perder a imortalidade, mas também não se conquista uma respeitável, conquista-se, geralmente, uma imortalidade risível.
Kundera cita vários exemplos de imortais risíveis, do presidente estadunidense Jimmy Carter ao astrônomo Tycho Brahé, hoje não mais lembrado, salvo pelo célebre jantar na corte imperial de Praga em que ele refreou pudicamente sua vontade de ir ao banheiro, até que sua bexiga explodiu, e ele, mártir da vergonha e da urina, foi prontamente juntar-se aos imortais risíveis.
O único nome que me vem à mente quando penso em alguém que alcançou tanto uma grande imortalidade quanto uma imortalidade risível, foi Napoleão. Conquistador e grande estrategista, perdeu sua última batalha para o frio, entrando pra história das piadas vulgares com a imagem de seu corpo recolhido e a bunda levantada aos ares. Posição ridícula dada a ele pela derrota, tornou-se metáfora da posição que leva a derrotas ridículas.
Coincidentemente ou não, um dos maiores deflagradores da derrota de Napoleão foi seu ego.
O que tudo isso tem a ver com fotografia?
Nada a não ser que fotografia é uma arte feita por pessoas, alguns alcançam a pequena mortalidade, outros a grande, uma parcela a imortalidade risível, a grande maioria o esquecimento.
Eu de minha posição, admiro os grandes imortais, convivo com alguns fotógrafos (que chegarão a ser grandes) e rio dos mortais risíveis (porque não passam de piada e não, estes não alcançarão a imortalidade).
Tomem esse texto como uma resenha, uma reflexão, um esporro ou como bem queiram.
E nomeiem se preferirem seus mortais e imortais risíveis.
À bientôt!
21 outubro, 2006
Sonrisais através da história
Sob essa premissa, proponho a citação de outros fotógrafos sonrisais, que se estivessem vivos, com certeza se juntariam a nós.
Diane Arbus (1923-1971):
"Sempre pensei em fotografia como uma maldade - e esse era um de seus pontos prediletos, para mim, (...) e quando fotografei pela primeira vez, me senti muito perversa"
Fonte: Citado por Susan Sontag em seu livro Sobre Fotografia (p. 23).
Henri Cartier-Bresson (1908-2004):
"Faça-me perguntas, se não vou dizer asneiras."
"Se sou mordaz...não é contra a fotografia...mas fico feliz se faço o que me diverte...ou interessa às pessoas. Mas a fama é terrível. Terrível ! Ficamos acorrentados a ela. Se sou mordaz, é contra isto."
"Só acredito no que está à margem. Acho que é isso que deve sobressair."
Frases ditas pelo próprio Bresson no filme documentário HENRI CARTIER-BRESSON: Point d’Interrogation, de Sarah Moon.
Fonte: http://www.fotonadia.art.br/paris/fotos/henri/1.htm
À bientôt!!